.: Livro Digitalizado! E-Book .:
Em quatro de março de 1982, recebemos com a seguinte dedicatória — “Ao querido Irmão Rizzardo da Camino, escritor de sensibilidade maçônica, com toda força de nossa união. Que seja mais um fragmento na edificação do nosso gigantesco Templo Espiritual” —, do Irmão Getúlio Gadêlha Dantas, um livro repleto de desenhos simbólicos, intitulado: “Fragmentos da Pedra Bruta”.
Na capa, um sugestivo desenho: uma pedra central rodeada de seis fragmentos, formando uma estrela hexagonal.
Apreciamos muito o livro pelo seu conteúdo poético-filosófico e o colocamos em uma estante para uma oportuna e posterior releitura.
Passados dez anos, ou um pouco mais, ao visitarmos um dileto Irmão, Nillo Siega, nos deu a ler um verso que datilografado já apresentava sinais de deterioração, tal o manuseio.
Achamos sublime aquele poema e solicitamos a cópia, sem nos dar conta que possuíamos o original inserido no livro de Gadêlha Dantas.
Este fato nos despertou o interesse para a programada releitura e assim o fizemos, deleitando-nos nas mensagens oportunas, dirigidas aos Maçons.
Este episódio nos conduziu à elaboração do presente livro cujo título semelhante veio a calhar, de vez que “nas oficinas da vida há tanta pedra polida que fica bruta depois”.
Por onde andará esse amável Irmão?
Ao concluirmos o nosso modesto trabalho, o dedicamos a você Getúlio Gadêlha Dantas; algum dia, por certo, um exemplar do livro há de cair em suas mãos e constatará que seu trabalho produziu frutos.
Longe de nós pretendermos ser este livro uma peça paralela; apenas sentimos o desejo de entregarmos aos Maçons, cujas pedras brutas, por certo, já desbastaram, o presente esforço que poderá ser útil para alguns e servir como subsídio para o estudo em Loja pelos Aprendizes sempre ávidos em acumular mais e mais, conhecimentos para… evitar que sua “pedra polida fique bruta depois…”
Em todas as Lojas, ao pé do trono do Primeiro Vigilante é colocada uma pedra de granito, de dimensões adequadas representando o trabalho que está à frente do Aprendiz e simbolizando a ele próprio.
Não sabemos quem selecionou, adquiriu e lá colocou a Pedra Bruta.
Dela sabemos muito pouco.
Como seria elaborado o livro? Todos os que o precederam demandaram longa e exaustiva pesquisa. Todo livro depende de um esforço que exige pertinácia e força de vontade.
O que se poderia construir sob o título Pedra Bruta?
Foi necessária uma prolongada contemplação e uma busca em algumas Lojas para, de perto, ver essa intrincada Pedra; Pedra que enfrenta a contemplação, calada, imóvel e misteriosa.
Olhando-se para ela, a vemos coberta de pó e enegrecida pelo tempo.
Nenhuma Pedra é igual a outra; em comum, têm aparência de blocos sem forma definida e parecem em abandono.
O que dizer dela, se não notamos a perda de arestas; ela se conserva íntegra a desafiar, como Símbolo, a compreensão do Maçom.
Temos porém que aceitar a transposição dessas pedras para o próprio Maçom e então, não será tão difícil descrever o Símbolo vivo, a Pedra Bruta viva.
Se essa Pedra nos representa, então dirijamos nosso interesse no homem e encontraremos as soluções que parecem perdidas.
No entanto, não basta tecer considerações sobre o Maçom sem que lhe conheçamos a sua estrutura.
O homem, esse eterno desconhecido, passa a ser analisado a fundo e somente após saber como é construído é que poderemos discorrer a respeito das suas emoções e paixões.
Assim devemos proceder a respeito da Pedra, conhecendo-lhe a sua essência, a sua composição química, a sua formologia em todos os aspectos, de dureza, cor, estrutura, sistemas, eixos cristalográficos, a fratura, clivagem, densidade, classificação e muito mais.
A idade da pedra e o seu manuseio pelo homem das cavernas; a sua elaboração, primeiramente, como utensílio para a caça e a pesca e depois, como arma de defesa e agressão, seguindo-se a utilização das pedras roliças para a construção de abrigos. Os monumentos paleológicos.
Finalmente, o seu desbastamento, a escultura, a obra de arte, religiosa e principalmente… como símbolo do próprio homem, convertido em Pedra Bruta de Lojas Maçônicas.
A pedra como terapia, como adorno ou como marcos de memórias, testemunho de eventos; pedras tumulares, enfim, pedras como gemas preciosas, como minério, pedras, pedras… e pedras.
Para chegarmos ao cerne da Pedra Bruta, partimos da Câmara das Reflexões, criando em nossa mente, a caverna onde os “Jubelos” arquitetaram a sua condenação pela traição levada a efeito contra Hiram Abi.
Dessa caverna cavada na rocha, a Maçonaria buscou o local apropriado para a Iniciação do Primeiro Grau e nós, dela extraímos, como vem demonstrado na capa do livro, a Pedra Bruta.
O Iniciando a encontrou na Câmara das Reflexões e a carregou consigo, como se fora um fardo pesado.
Não sabendo como nela trabalhar, conduziu-a para o Templo onde lhe foi ensinado que teria precisão de retirar-lhe as arestas, porém, uma a uma numa execução pacienciosa frente a um Mestre.
E assim surge o Maçom como ser excepcional: “Ouve, mas é surdo; enxerga, e continua cego; fala, mas também é mudo; sente, mas ao mesmo tempo é insensível; quando age, se torna estático; é racional, cefálico, e ao mesmo tempo irracional, acéfalo; e ainda prega a liberdade, igualdade e fraternidade; o homem, é mesmo um ser excepcional, muito especial”.
Este livro não é completo; faltam-lhe muitos outros elementos que, certamente, hão de a ele juntar-se com a colaboração dos mais doutos, daqueles que já desbastaram, completamente, a sua própria Pedra Bruta, inserindo-a na construção do Templo que cada Maçom tem em seu interior.
Como registramos, a pedra é uma só, mas dela originam-se para mais de duas mil espécies, abrangendo todos os minerais da terra, incluindo o próprio ser humano que também é composto com esses mesmos materiais, comprovando assim, com saciedade que ele é Natureza.
Os fragmentos ou arestas da Pedra Bruta o Maçom espalha em seu caminho; consideramos que essas arestas podem transformar-se em “pedras no caminho” de quem deseja trilhá-lo.
Essas arestas por terem feito parte de um todo, permanecem preciosas, quais gemas estranhas; não convém perdê-las ou jogá-las fora.
Certa feita perguntamos a um Irmão: “Que tens feito com as arestas que retiras de tua Pedra Bruta? “Não sei”, foi sua resposta”.
E isso é relevante para o Maçom.
Ele tem dois trabalhos a executar e saber executar: como retirar as arestas, se vencendo as próprias fraquezas, os próprios vícios, buscando a própria autoperfeição; ou retirá-las através de atos de benemerência, de tolerância ou de amor.
Qual o papel que um Mestre desempenha diante de seu discípulo? Certamente ensinar o desbaste da Pedra Bruta.
Entregamos mais um modesto trabalho para a Editora “A TROLHA”, para que seja distribuído aos sócios do Círculo do Livro Maçônico.
Cremos que com o nosso propósito, seja retirada de nossa própria Pedra Bruta, mais uma aresta na esperança de alcançar, algum dia, o polimento integral dessa Pedra que nos pesa em nossos ombros.
Auguramos a todos, um bom proveito.
E… também, estendemos o nosso sincero agradecimento.
Rizzardo da Camino
…